terça-feira, 18 de setembro de 2007

Uma dica da Mariana Massarani...

Foi numa manhã de segunda numa livraria em Botafogo, no Rio de Janeiro. Tínhamos acabado de encontrar uma edição do Cavaleiro das Sete Luas de Bartolomeu Campos de Queiroz quando Mariana Massarani entrou na loja com um sorriso estampado no rosto e uma penca de livros nos braços. Foi aquela farra. Um reencontro desejado, que aconteceu aos 48 minutos do segundo tempo. A seção infantil era uma tortura. Tinha uns mil livros num cantinho que não dava dois metros quadrados. Mas somos ou não somos Roedores de Livros? Fomos à luta. Foi um desfalque nas últimas economias. Apenas algumas notas na carteira. A dona da livraria não aceitou nosso cheque pré-datado, pois era de Brasília (!!!). Ana Paula olhava para os livros e para mim e dizia: - você vai levar todos estes? Foi então que Mariana apareceu com mais um livro e perguntou: - vocês já viram este? É S E N S A C I O N A L!!! Dei de presente para o filho de uma amiga e ela quase me mata depois de ler o livro!!! (risos) Caramba, não podia deixar de trazer aquela indicação para casa!!! Olhei para a Ana Paula meio que dizendo: - só mais este, ta?! Que bom que ela topou. Na verdade, ela topa sempre!!! Mas é importante perguntar. Faz parte do charme da relação. Não dava mais para olhar livro nenhum. O orçamento não permitia. Resolvemos atacar o café na entrada da loja. Conversas sobre a Bolívia e outras coisas o que não interessam para a literatura infantil. Mas que foram engraçadas foram!!! O café estava ótimo. Pausa para fotos (a primeira foi no balcão, Ana em primeiro plano, eu e Mariana – que tirou a foto - no espelho da parede), chegou a hora de pagar os preciosos livros. O jeito foi raspar o restinho do especial no cartão de débito. Tudo bem, estamos vivos! Mariana levou pra casa Um Papai Sob Medida que é ilustrado por uma figura que ela adora: Anna Laura Cantone. Beijos, abraços e a promessa de um breve reencontro!!!
Aí, léguas distante daquele abraço, mas ainda com o perfume do café, tirei do matulão aquele livro indicado pela Mariana - NA BEIRA DA ESTRADA (Jules Feiffer, Cia das Letrinhas) - e fui descobrir seus segredos. Se você acha que cantar “atirei o pau no gato” e “o cravo brigou com a rosa” vão fazer do seu filho um menino pior que os outros, definitivamente não leve este livro para casa! Explico: Qual o pai ou a mãe que nunca viveu a situação dos pais de Richard quando, numa viagem de carro mais longa, teve que ameaçar: “Se você não se comportar aí atrás eu deixo você aqui mesmo, na beira da estrada!!!”. Pois é... Richard aprontou tanto na viagem que seu pai cumpriu a promessa. Aquela viagem de apenas duas horas parecia uma eternidade para os dois irmãos ficarem sentados no banco de trás. Pai e mãe preocupados com a estrada, a solução infantil foi começar a brincar. Brincadeira no banco de trás do carro quase sempre se confunde ou se transforma em briga. Incomoda os adultos. Eu também já fui autor de ameaças daquele tipo em viagens que fizemos com as crianças pelo interior do Goiás e do Ceará. Mas nunca deixei ninguém na rua. Isso fica para o mundo da fantasia. No caso do pai de Richard, a solução foi deixar o menino na beira da estrada. Mas o fim da história não é bem aquele que você possa imaginar, pois, definitivamente, esta não é uma história comum.
Com ilustrações em preto e branco do autor e tradução de Eduardo Brandão, o enredo é contado pela ótica de Richard, que não vê nada demais no que fez, e se mostra orgulhoso o suficiente para seguir em frente com sua birra. A criança é auto suficiente o bastante para morar na beira da estrada. Lá, a vida passa, e o menino adolesce, cresce, vira homem e no fim, reconcilia-se com a família também de forma inusitada. Como o livro foi feito para ser lido por crianças e não é um livro pedagógico (oba!!!), não pense que o importante é aprender ou mostrar alguma lição. Não procure entender como Richard sobreviveu as dificuldades. Apenas divirta-se com a história. Este é o fim principal deste livro muito bacana. Bacana como a Mariana. Ou como se jogar no chão e gritar -MIAU depois de cantar “atirei o pau no gato-to...”. Não sei se você vai gostar, mas com certeza seu filho vai curtir muito.
P.S. Na foto acima, depois de brincadeiras, brigas, ameaças e um rodízio de Pizza, nossos Pedros e Júlia desmaiam no banco de trás numa saudosa Fortaleza de janeiro de 2005.

Um comentário:

Fátima Campilho disse...

Oi, Roedores
Sei bem o que é orçamento estourado. A Bienal que o diga! Fui três vezes. Estou dura e feliz. Quero dizer, um pouco! Abandonei muitos livros pelo caminho!
Abraços.