terça-feira, 7 de agosto de 2007

Quanto vale uma boa história?...

Para construir este post, vou reproduzir um trechinho do livro autobiográfico A ARTE DE CONSTRUIR CIDADÃOS – As 15 lições da Pedagogia do Amor (Celebris) do pedagogo e “contador de histórias” ROBERTO CARLOS RAMOS. Ele acabara de chegar à Espanha pela primeira vez:
Foi nesse país que conheci uma senhora que era uma fantástica contadora de histórias, que me vendeu um belo potinho, que, segundo ela, havia pertencido a Napoleão Bonaparte. Ela me contou das bravuras de Napoleão e de como havia conseguido adquirir aquele pote. Fiquei tão impressionado com a história do pote, que perguntei se ela poderia me vende-lo. Ela perguntou quanto eu tinha na carteira. Quando lhe falei a cifra que tinha, ela reclamou, mas disse que apesar de ser pouco o dinheiro que eu carregava ela iria aceitar, pois havia se simpatizado comigo. Entreguei-lhe todo o dinheiro, e quando ela abriu o armário para pegar o famoso pote vi que lá dentro havia muitos outros potes iguais ao que ela estava me vendendo. Muito desconfiado, perguntei:
- Espera aí! Por que tantos potes iguais?
- Eu tenho culpa se Napoleão era louco? Eu tenho culpa se aquele homem adorava colecionar potes? Isto tudo aqui pertencia a ele, e, além de tudo, ainda queria dominar o mundo! – disse ela sem nenhum constrangimento.
Percebi que, na verdade, era uma história que ela estava me contando. Revoltado, pedi o meu dinheiro de volta. A resposta dela foi interessante:
- O dinheiro não é possível lhe dar de volta. Estou lhe dando o pote de graça porque você me pagou pela história que lhe contei, e por uma história contada não é possível devolver o dinheiro.Quando ela me disse aquilo me dei por vencido e me conformei com a perda do dinheiro porque ela me ensinou uma grande lição. A força do convencimento das palavras. Além do mais, encontrei naquela senhora, que era uma pessoa fantástica, um estímulo muito grande para me tornar um contador de histórias.

Há duas semanas quando estivemos em Pirenópolis (GO) fomos convidados a conhecer a Cachoeira do Rosário, distante cerca de 40km do centro da cidade. O acesso não tão fácil e a grana desembolsada faria qualquer professor assalariado pensar duas vezes. Ao chegarmos lá havia uma turma de jovens com “seus” carros bacanas, som alto, gritos e tudo mais. Pensei: - Que fria!!! Este lugar é o caos para quem quer sossego e natureza. Mas fomos em frente. Chegamos à cabana e subimos para o mirante repleto de redes (o Tino abriu um sorriso...) e esperamos os jovens seguirem rumo às cachoeiras. De repente, surge um caboclo, nativo, chamado Demócrito, que nos dá as boas vindas e o seguinte conselho:
- Parece que vocês são como eu. Amam a natureza, o silêncio. Então, sigam por aquela outra trilha, façam o caminho oposto. E descubram nossa beleza.
Beliscamos uns torresmos, queijo e goiabada noutra mesa, água do filtro, pegamos os cajados e seguimos até uma das nascentes do Tocantins. Depois, cachoeiras, piscinas naturais, pássaros invisíveis e um almoço caseiro de fartar um T-Rex.

Fugimos para o primeiro andar e fomos descansar os olhos nas redes do local. Perto das 17h, poucos remanescentes apreciavam aquele silêncio. Sentimos um aroma de chá. Descemos e compartilhamos aquela efusão com Demócrito e Jaqueline, sua esposa. Descobrimos que eles eram os proprietários do lugar. Papo vai, papo vem e, enquanto o sol pensava em descansar, o Tino abriu uma roda de histórias contando A DIVISÃO DOS GANSOS (uma de suas preferidas)... Aí deu-se o milagre: Demócrito, criado naquele cerrado, contou causos das noites em que ficou sozinho na mata, falou do Pai do Mato e de outras aventuras. Jurou que assombração existe. Para não fazer feio, Jaque, que conta histórias para as crianças em Pirenópolis, também desfilou seu repertório e nós, lembramos de Roberto Carlos Ramos e sua história sobre o encontro com aquela senhora na Espanha.
Ao final, o sol se pôs, a turma da Cachoeira do Rosário saiu numa Kombi que parecia a da Miss Sunshine, e nós voltamos para casa com a sensação oposta de quando chegamos lá: Pagamos pouco pelas histórias que ouvimos e ainda levamos de graça cachoeiras, redes, piscinas naturais, almoço, uma rodada de chá, o canto dos pássaros invisíveis e a primeira noite de lua cheia do mês de julho. Juro que deu para ouvir os lobisomens depois da meia noite!!!

P.S. Nas fotos, de cima pra baixo: a) Os exploradores Lucia Helena, Eu, Anna Claudia Ramos e Tino; b) Eu e o Tino em estado mineral na exata hora do meu beijo transformador; c) Os exloradores com o casal Demócrito e Jaqueline; d) A guerreira Kombi da Cachoeira do Rosário e o pôr-do-sol.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Espaço Cultural Vila Esperança

A Cidade de Goiás, no coração do Brasil, abriga muito mais que a Casa de Cora, Museus e cachoeiras... é o celeiro de gente que – como os Roedores de Livros – trabalham por uma infância melhor, por um Brasil mais justo. O interessante é que a gente acaba descobrindo isso ao acaso, onde menos se espera. Dia desses, tomando um café no Grão Café Realejo (o melhor lugar na Cidade de Goiás para um bate papo tranqüilo e um atendimento especial - veja a foto acima) ao lado de Anna Claudia Ramos, Lucia Helena e do Tino Freitas, reencontramos a Micky (terceira da esquerda para direita na foto abaixo) que nos atendeu com toda a simpatia do mundo com cafés e histórias. Ainda era cedo. Poucos clientes. Papo vai, papo vem, descobrimos que ela é voluntária do Espaço Cultural Vila da Esperança.
A Vila é um cantinho pluricultural que educa cerca de 200 crianças, gratuitamente, com uma proposta que extrapola os muros da escola tradicional, utilizando ainda recursos de uma brinquedoteca e diversas formas artísticas como o teatro a dança e a música. Na sua sede, em frente ao mosteiro da cidade, funciona ainda a Rádio da Vila, programa produzido pelas crianças, entre outras tantas iniciativas. Lembramos muito da Escola da Ponte, em Portugal. Nossa escola dos sonhos.
Pois é, Micky e outros tantos voluntários saíram do sonho e apresentam à comunidade carente da Cidade de Goiás uma proposta pedagógica inovadora, ousada e encantadora. Como diria Rubem Alves (ando apaixonada por seus escritos): “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender”. Mas a vida na Vila não é nada fácil. O primeiro obstáculo está na família das crianças. Há muita resistência ao modo “diferente” de educar aplicado ali. Para muitos pais, o certo é como nas escolas “normais”. Mas o trabalho segue sem obrigações. O mundo ainda não está preparado para aceitar essa revolução que se aproxima. Recentemente li em algum lugar que se houvesse uma máquina do tempo e alguém do início do século XX aparecesse de repente por aqui, estranharia tudo: celulares, televisão, computadores, roupas... a única coisa que estaria ainda de acordo com o seu mundo secular seria a educação. Pense bem: isso é assustador!!! No interior de Goiás, crianças e voluntários aprendem e ensinam juntos. No final de semana passado estavam de recesso, mas em breve, faremos uma visita. Quem sabe na SACIZADA acontecerá no final de agosto?! Daqui, deixamos beijos para a Micky e toda a equipe da Vila Esperança. O tempo abraçará nossas certezas. Hatuna Matata!!!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Em julho, na Fnac, sorrisos e brinquedos.

No mês de julho, fomos convidados a desenvolver oficinas de brinquedos populares na Fnac em Brasília e, num intensivão de uma semana, eu e Vilma Sampaio trabalhamos para fazer das férias da garotada algo mais diferente e divertido. Talvez o grande sucesso tenha sido a oficina de Aviões de Papel.
Você pode pensar: - Ah, aviões de papel eu sei fazer... que coisa mais sem graça!!!
Mas existem vários modelos diferentes daquele tradicional que aprendemos na infância junto com os chapéu e o barquinho de papel. Foi surpreendentemente positivo ver pais e filhos juntos brincando de jogar os aviões no ar. Ensinamos também a fazer um helicóptero e este foi o grande trunfo da oficina. A Fnac ficou mais congestionada que o espaço aério de São Paulo. Sem acidentes, é claro. Só alegria!!!

Nossa oficina de Galinha de copo plástico foi mais uma vez um encanto. Todos descobrindo o segredo do canto da galinha e fazendo a festa com seu cocoricó.
Além dos aviões, fizemos outro dia com dobraduras produzindo Origamis Gigantes: Um Sapo saltitante e um Tsuru laranja fizeram a alegria de todos. No final, em clima de Pan, brincamos de corrida de sapo.
Para encerrar, o genial Traca-Traca (ou escada de jacó) foi feito para que os pais participassem junto com as crianças da sua confecção e da brincadeira. Depois de pronto, formamos um círculo e, com o brinquedo fizemos mágica e contamos história. As outras ofincias de julho foram as cinco marias e o rói-rói. Muito trabalho, muitos sorrisos, brincadeiras e novos amigos para os Roedores de Livros. Seguimos alimentando a fantasia dos pequenos. Hatuna matata.

terça-feira, 24 de julho de 2007

10 anos nas estrelas...

Há exatos 10 anos, Sylvia Orthof foi conhecer as estrelas. E os Roedores de Livros sentem uma falta danada dela. Escritora que revolucionou a literatura infantil no início dos anos 80 com suas histórias repletas de bom humor e criatividade, Sylvia publicou mais de 100 livros, fez grandes amigos e, como a personagem Fada Fofa, saía descobrindo sorrisos em crianças e adultos.

Se você, querido internauta, nunca ouviu falar de Sylvia Orthof, não se sinta culpado. Parece que o Brasil tem o dom de esquecer seus gênios e, consequentemente, não propagar seus feitos às novas gerações. A imprensa também se esqueceu de Sylvia Orthof. Pelo menos aqui em Brasília, onde ela foi muito importante no desenvolvimento do teatro local no início dos anos 70. Não se fala em homenagens à sua obra. Ainda bem que nem todos se calam. No último dia 19 de julho, Fanny Abramovich lançou o livro Sylvia Sempre Surpreendente (Paulinas, com ilustrações de Ge Orthof) em que relata sua convivência com a autora. Os Roedores de Livros preparam ainda para este semestre o espetáculo FIRIMFIRIMFIMFOCA – Histórias de uma fada carioca. Nossa homenagem à Sylvia Orthof. Vocês serão convidados.
Contam por aí que, pessoalmente, Sylvia também era dona de um bom humor infalível! No penúltimo dia do 9º Salão do Livro da FNLIJ, Luiz Raul Machado, Léo Cunha e Ricardo Benevides prestaram uma homenagem à autora contando alguns fatos que dividiram com ela, multiplicando risos e lágrimas naquele fim de tarde carioca. Os Roedores de Livros estavam lá (foto acima). Inesquecível!!! Assim como Sylvia.
Se você nunca leu nada desta autora, recomendo o espetacular livro BICHOS QUE TIVE (Salamandra, com ilustrações de Gê Orthof) em que ela relata suas experiências com bichos de estimação. Coelho, cachorro, Elefante, bicho papão e até um bicho de pé. Mas, se Sylvia já pertence ao seu universo, talvez você não tenha lido ainda o SE A MEMÓRIA NÃO ME FALHA (Nova Fronteira, com ilustrações de Tato) onde a autora conta fatos e sentimentos comuns à adolescência resgatados de seu próprio passado: o primeiro beijo, o baile tão esperado, as farras no colégio, medos, sustos e emoções.
No final do livro, ela diz: “Acho que vou dar uma volta pela praça da Liberdade. O nome da praça é doce, você não acha? Um beijão, tchau”. O livro é de 1987. Dez anos depois ela resolveu dar uma volta nas estrelas. Nesta noite, olho para o céu peço à Fada Fofa que continue inspirando a fantasia dos anjos para que protejam os que ainda estão por aqui em busca do pote de ouro no fim do arco-íris. Amém! E viva Sylvia Orthof!!!

É o AMMOOOOOORRR...

Pois é...
Assim como a menina personagem da Adriana Falcão no genial MANIA DE EXPLICAÇÃO, não sei explicar o amor. O que posso afirmar é que os Roedores de Livros começaram quando, há cinco anos (23/07/2002) encontrei o meu príncipe-sapo-cearense-cantor. Foi amor à primeira vista, à primeira audição. A história se deu muito parecida como a que Graça Lima conta no seu maravilhoso livro-imagem SÓ TENHO OLHOS PARA VOCÊ (clique nas imagens para apreciar os detalhes). São cinco anos dividindo a vida e somando sonhos, alegrias, projetos, um ao lado do outro seguindo os tijolos amarelos, trilhando o caminho da felicidade. E isso não é fantasia: - o amor bate forte no coração dos Roedores de Livros. E está em festa!!! Cinco anos com muita história boa pra contar. Que venham outros tantos.

Presente da Paulinas...

Vocês podem achar que em virtude de estarmos em recesso de duas semanas do projeto na Ceilândia os Roedores de Livros estão desligados dos meninos. Nada disso. Aqui, trabalha-se todo dia!!! Ontem (23/07), nossa conquista mais recente ganhou corpo. A Biblioteca Comunitária só com títulos infantis e juvenis que estamos formando na sede da Pró Gente ganhou 40 livros, novinhos em folha, da Editora Paulinas. São livros de autores e ilustradores como Léo Cunha, Tatiana Belinky, Rosinha Campos, André Neves, Elma, Fê, Lenice Gomes, Elisabeth Teixeira, entre outros. Vamos dar trabalho para a Edna (que está catalogando o acervo que só cresce a cada dia) mas tenho certeza que ela fará com prazer!!! Deixamos aqui nosso MUITO OBRIGADO para a Ângela, que se empenhou muito por esta conquista!!! Aproveitamos para lembrar a todos que, se quiserem colaborar com o acervo da nossa biblioteca na Ceilândia, é só entrar em contato pelo email roedoresdelivros@gmail.com que nós pensaremos num jeito de acolher suas doações. Hatuna Matata!!!

Aprendendo e divulgando...

É sempre muito importante estarmos abertos a aprender. E nestes 14 meses de Roedores de Livros todos aprendemos, a cada dia. Num encontro com Jô Oliveira numa livraria da cidade, ele me mostrou uma caixa com livros em miniatura de uma autora inglesa chamada Beatrix Potter que - dizia ele - foi uma das grandes escritoras/ilustradoras da Inglaterra Vitoriana, ainda hoje conquistando leitores. Dei uma olhada melhor e identifiquei o coelho que ilustrava aquela compilação: era o Peter Rabbit que eu assisti muito em desenho animado na TV Cultura.
Aí, resolvi fuçar um pouco na net e descobri a força da mulher e o talento da artista. Sem dúvida, uma pessoa à frente do seu tempo. Caso você queira conhecer um pouco sobre a vida desta autora, chegou às locadoras o filme/biografia Miss Potter. Apresenta a delicadeza e a emoção no ponto para homenagear Beatrix Potter e seus animais encantadores. Se o filme ainda não estiver ao seu alcance - e mesmo que você já o tenha assistido - vale a pena conhecer um pouco mais sobre esta autora clicando AQUI.
Para completar, o Tino me presenteou ontem (e ontem foi um dia para se comemorar) com a edição comemorativa dos 100 anos de publicação do primeiro livro dela: The tale of Peter Rabbit (na foto lá em cima), publicado originalmente em 1902. Capa dura, papel especial, aquarelas maravilhosas e a história singela de um coelhinho teimoso. É uma edição inglesa, mas parece ser impossível encontrar Peter Rabbit em português. Adorei o presente. Agradeço mais uma vez ao Jô Oliveira pela dica e donvido a todos a assistirem ao filme. Se você lê em inglês, o site dedicado à obra de Beatrix Potter também é ótimo. Vale a sua visita. That´s all, folks!!!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Variações sobre o mesmo tema...

Dona Elenita tinha poderes especiais. Como diria Lya Luft, era uma bruxa boa. Todas as manhãs ela empestava a casa com um aroma que saía da cozinha, mais precisamente, da panela (era muita bandeira levar um caldeirão lá pra casa). Durante anos comandou a cozinha e a faxina (sim, ela também tinha uma vassoura) na casa em que o Tino morava em Sobradinho na Bahia. A lembrança maior era que, depois da lição de moral do desenho He-man, vinha um almoço delicioso onde Dona Elenita enfeitiçava toda a família pelo paladar. O Tino vivia de olho na cozinha. Queria arriscar uns quitutes. Foi por volta dos 15 anos que teve a primeira oportunidade, num dia em que todos saíram e ele ficou frente a frente com o fogão, a despensa, a panela e a inexperiência. Era um aprendiz de feiticeiro. Queria transformar alguma coisa em comida. A primeira idéia foi fazer um macarrão. Aquela coisa dura, que vinha ensacado, que apresentava formas variadas, que amolecia, ganhava sabor e cor em contato com a água. Durante muito tempo imaginou como seriam as árvores que davam aqueles frutos tão deliciosos e multiformes. Coisas da imaginação infantil. O fato é que ele adorava o macarrão da Dona Elenita. Sempre al dente, vermelhinho, gostoso. Pareceu fácil. Naquele início dos anos 80 não tinha receitas na internet muito menos o miojo. No interior do interior da Bahia, então, molho de tomate era um luxo. Mas Tino tinha aprendido como fazer. Tinha a certeza. Era fácil. Encheu a panela com água, acendeu o fogo e a fome, despejou o espaguete lá dentro e esperou ele ficar pronto. Para ele, ficar pronto significava um macarrão meio duro, meio mole e vermelho. Mas o tempo passou e nada do macarrão ganhar cor. A água ferveu (pois é, ele colocou a massa na água ainda fria) e o macarrão continuou pálido. O Tino também! Depois de muito tempo ele percebeu que faltou algo naquela poção e que, se era para matar a fome, o jeito era desligar o fogo e comer a gororoba grudenta e insossa que nascera da sua primeira e desastrosa experiência nas artes mágicas da culinária. O feitiço se voltou contra o feiticeiro. O aprendiz esqueceu – entre outroas coisas - o sal, o óleo e o urucum. Hoje ele aprendeu os segredos da boa mesa e, a exemplo da Dona Elenita, é o meu sapo-príncipe-cearense quem comanda nossa cozinha com sua alquimia gostosa repleta de criações e fantasia. Enfeitiça nosso paladar e põe mais sabor na nossa vida. Mas o Tino não foi o primeiro a se dar mal. A exemplo dele, Tonhão, Chancery e o mais antigo deles: o aprendiz do alemão Goethe tiveram seus desastres eternizados na literatura infantil. Vamos falar um pouco destes personagens que – variações sobre o mesmo tema – têm o poder de encantar (desta vez, sem desastre) a fantasia dos leitores.

Talvez o mais antigo deles esteja presente no texto de Goethe, APRENDIZ DE FEITICEIRO que ganhou uma excepcional edição da Cosac Naify em 2006 com tradução de Mônica Rodrigues da Costa e ilustrações do genial Nelson Cruz. Na história o feiticeiro se ausenta e o garoto decide encantar uma vassoura para fazer o serviço doméstico. A história foi popularizada na animação homônima da Disney em que o Mickey faz o papel do aprendiz. Nesta edição, em capa dura e com a inclusão do texto original em alemão arcaico, difícil saber o que mais me encantou: tradução ou ilustração. Na dúvida, fiquei com os dois. Um casamento perfeito. Não entendo nada de alemão. Do arcaico, então... Mas olhando o texto original e a tradução, percebe-se o cuidado em manter a métrica. Com mais cuidado, notamos o trabalho na escolha de palavras quase monossilábicas, no ritmo que elas ganham no corpo do poema (dá para perceber a tensão do aprendiz à medida que as coisas vão dando errado) e o cuidado com as rimas. Já Nelson Cruz, a meu ver, dá um tom de brasilidade à história da tradição oral alemã. Seu aprendiz parece um garoto saído de uma favela brasileira. Casas justapostas com seus telhados multiformes, escadarias e algumas cenas do cotidiano com carrinhos de pipoca e pipas no ar. Brasilidade à flor da pele. Um livro impecável.
No início do ano fui fisgada por um livro com título e projeto gráfico encantadores. O MAGO, O HORRÍVEL E O LIVRO DE FEITIÇARIA (Pablo Bernasconi, Girafinha). Ao chegar em casa, fui contaminada também pelo enredo. Chancery é o triste homem azul e feio a quem os habitantes do vilarejo chamam de Horrível. É também o ajudante do mago Leitmeritz, dono do Livro Vermelho de Feitiçaria, que guardava todos os segredos do mundo, fonte de inspiração para os feitiços do mago. Certo dia, na ausência de seu patrão, o Horrível se apodera do livro e tenta obter sozinho seu desejo mais íntimo: “- Quero ser lindo!!!”. É fácil imaginar: não deu certo. E pra piorar, outras coisas estranhas passaram a acontecer, até que o mago põe tudo em ordem outra vez. O argentino Pablo Bernasconi, autor e ilustrador desta história, tem um traço que lembra os melhores trabalhos de André Neves. Embora André trabalhe muito com tecido, estampas, texturas e papéis (ou seja, ele põe a mão na massa!!!), Pablo nitidamente trabalha centrado na computação gráfica. São técnicas diferentes e resultados igualmente belíssimos. O livro do Horrível é lindo (perdoem o trocadilho... não resisti). Um presente para os olhos e um prato cheio para a imaginação.
Por falar em prato cheio, nosso próximo aprendiz, assim como o Tino, quis fazer um macarrão. STREGA NONA – A AVÓ FEITICEIRA é um conto tradicional. Nesta edição da GLOBAL, pela coleção CRIANÇAS CRIATIVAS, o texto e ilustrações são do espetacular TOMIE DE PAOLA que abusa do traço para contar com poucas palavras a história de Tonhão que cuidava da casa e do jardim da vovó feiticeira. Um dia, espionando as poções mágicas que saíam do caldeirão, descobriu que dele saía também uma macarronada deliciosa. A vovó feiticeira precisou viajar e, faminto, Tonhão arriscou um passe de mágica para transbordar a massa do caldeirão. Matou a sua fome, a dos moradores da vila e... Bem, posso dizer que Tonhão esqueceu algumas palavras mágicas e a confusão só acabou com o retorno da vovó. Tomie de Paola é sinônimo de ótimos livros. Suas ilustrações carregam traços e cores que encantam crianças de todas as idades. Não é diferente nesta versão de Strega Nona. Macarronada, uma vovó simpática e seu ajudante desastrado são ingredientes para uma história divertida, gostosa e inesquecível. Obrigatória para uma estante que preza a fantasia.
Agora, reúna estes três livros, chame a garotada para comer uma boa massa, polvilhe queijo ralado e maravilhas sobre o molho e saboreie as emoções. Certamente, as crianças podem aprender a mágica de encantar com palavras. Só não fique longe de casa por muito tempo. Pode ser que os aprendizes precisem de uma forcinha. Hatuna matata.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Sete do sete de dois mil e sete

No sábado, 07 de Julho, começamos a fase de entrevistas e fotos com parte da nossa turma (acima). Em virtude do início das férias, nem todos compareceram, mas seguimos acompanhando o desenvolvimento da garotada. Na ocasião, contamos com o apoio da Hilariana, Margareth e Lisianny, que encantou os meninos contando a história do Soldadinho de Chumbo.
Depois, fomos surpreendidos com o pedido do João Victor para ler um livro para a turma. Ele escolheu o Clifford, O Cachorrão Vermelho. João é um dos meninos mais agitados do projeto. É ligado direto na tomada. Mas adora um livro. Sempre leva algum exemplar para casa. E, entre a garotada, é um dos que tem uma leitura melhor. Nos surpreendeu sua espontaneidade e desenvoltura ao mediar a leitura, caprichando na entonação e sempre mostrando as páginas para a turma que ficou atenta durante a sua apresentação.
Há três semanas temos recebido a Maria Luíza (foto abaixo abraçada por Juliana) que ainda não lê, mas adora nossa turma. Por isso, virou nossa mascote. É sempre bem vinda!!!
Para finalizar, deixo o registro desta foto da Edna recebendo a caixa que fiz de presente para ela. Se vocês prestarem bem atenção, ela fez uma expressão de felicidade comparável a quem recebeu a primeira bicicleta no natal. Que bom que ela adorou, pois foi feita com muito carinho!!!
Depois deste sábado, entramos em recesso, retomando as atividades na Pró-Gente com outras novidades a partir de 28 de julho. That´s all, folks.

domingo, 15 de julho de 2007

Descobrindo falésias, recifes e catamarãs

A caminho da belíssima praia de Lagoinha no litoral cearense, Pedro, 9 anos, folheia o Guia 4 Rodas e pergunta a seu pai: - O que é falésia? Seu pai explica de forma coloquial e promete: - Daqui a pouco avistaremos uma e aí você poderá criar sua própria definição. A viagem seguia com outras perguntas: - O que é catamarã? O que é recife? A tudo o pai tinha uma resposta. O importante era que a pergunta não ficasse sem resposta. Inspirada também em perguntas de seu filho Gabriel, Paula Toller compôs a belíssima OITO ANOS, música regravada por Adriana Calcanhotto no álbum PARTIMPLIM de 2004.
Inspirado por esta curiosidade infantil sobre o significado das palavras, Ignácio Loyola Brandão passeia pela literatura infantil com o ótimo livro O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS (Objetiva, com ilustrações de Mariana Newlands) que conta a história de um menino que tinha um pai que lia bastante e, consequentemente, conhecia o significado de muitas palavras. “-Meu pai é o homem mais inteligente do bairro”, dizia o garoto. Isso despertava a curiosidade da garotada do bairro, da escola. O desafio era descobrir uma palavra que o pai do menino não soubesse o significado. Esperto, o garoto passa a “cobrar” pela informação. Ganha bolinhas de gude, chicletes, picolés. Até que um dia surge uma palavra e o pai, o super-pai, aquele ser impossível de ser derrotado pelas palavras tem que admitir: “- não sei!”. E lá se foi o negócio!!! E aí, o que fazer?
Inspirado na infância do autor, nos anos 40, o livro vai muito além da história em si. Fala da importância do dicionário e da enciclopédia, de se conhecer as palavras. Falou de alguns “dinossauros” importantes para a formação de muita gente como a Enciclopédia JACKSON (Tesouro da Juventude) e o Dicionário Caudas Aulete. Em determinado momento o garoto quer saber qual a importância de conhecer tantas palavras. O pai responde: “Quanto mais palavras você conhece e usa, mais fácil fica a vida (...) Vai saber conversar, explicar as coisas, orientar os outros, conquistar as pessoas, fazer melhor o trabalho, arranjar um aumento com o chefe, progredir na vida, entender todas as histórias que lê, convencer uma menina a te namorar”. As ilustrações aliadas ao projeto gráfico – ambos de Mariana Newlands - lembram os reclames publicitários dos anos 40 somados a tipos que aumentam e diminuem de tamanho de acordo com a dinâmica da história. Tudo em vermelho, preto e branco, dando uma beleza especial ao livro. Mereciam créditos na capa do livro. Este o único deslize. No mais, roemos e adoramos.

Depois de escrever o texto acima, fui procurar um dicionário aqui em casa para escrever as definições do primeiro parágrafo. Sem o Caldas Aulete... achei um Silveira Bueno pocket que as crianças usam (MESMO) na escola. Ufa! Salvou a pátria. Então vamos lá:
Falésia: Nome dado a terras ou rochas íngremes à beira-mar.
Catamarã: Barco originário da Ásia, de pequeno porte, que arma uma vela quadrangular na qual os punhos do gurutil são agüentados nos extremos de duas fortes varas de bambu dispostas em V, e que, para maior estabilidade, leva disparadas duas varas com um pau de contrabalanço, preso na extremidade, paralelamente ao casco.

Recife: Penhasco no mar, à flor d’água.