sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Poeta, a canção e o amor dos elefantes.

Foi no tempo dos LPs. Lá em casa havia um disco do Paulo Diniz numa capa escura que destacava a silueta do seu rosto. Morávamos na Bahia. Tinha uns oito anos. Era algo como um “The Best Of”. Ainda hoje posso cantar de cor músicas como Pingos de Amor, Quero Voltar Pra Bahia, Um Chope Pra Distrair, O Meu Amor Chorou... mas tinha uma que chamava mais atenção: contava a história de um tal de José. A letra era diferente das outras. Umas palavras que soavam estranhas para mim. Sabia que o personagem estava sofrendo. Curioso, quis saber de quem era a música. Bem, a música era do Paulo Diniz mas a letra era de um tal Carlos Drummond de Andrade. Achei o nome bonito. Imponente. De gente importante. Mais tarde descobri que era poeta. Gostava mais do Vinícius, do Quintana... mas Drummond sempre esteve ali ao meu lado. Ele costumava dizer que “sentimos saudade de momentos de vida e momentos de pessoa”. Hoje – lembrando a passagem de 20 anos sem Drummond – senti esta saudade inteira. Lembrei de pai, de mãe, de amigos distantes e do velho som Gradiente tocando o LP do Paulo Diniz. Engraçado... aquilo mexeu com meus oito anos.


Tempos depois, já adulto, descobri um conto de Drummond para crianças. Não, não era poesia. Ou era? HISTÓRIA DE DOIS AMORES (Record, com ilustrações de Ziraldo) conta a história do elefante Osborne e do “pulgo” Pul que resolveu se instalar nas orelhas do paquiderme. A partir daí vivem aventuras no mundo animal. Guerras, intrigas, sete anos de paz e, enfim, a procura por um grande amor. O livro fala principalmente sobre a amizade. Socorrer o amigo nas horas difíceis, usar da franqueza mesmo correndo o risco de perder o amigo e reconhecer quando se está errado. Algo em comum entre você e seu amigo do peito? Pois é assim que seguem juntos a pulga (ou melhor, o pulgo) Pul e o elefante Osborne até encontrarem cada um a sua cara-metade. Ziraldo arrebenta nas ilustrações. Dá um banho de originalidade ao criar seus elefantes com bocas na perna, ou pernas na boca, enfim. Espero que vocês já tenham encontrado “um amor tão bonito como a luz das estrelas e o perfume das violetas”. O meu amor eu encontrei. É um amor como o dos elefantes de Drummond e Ziraldo. Você não a conhece? Está aqui embaixo na foto que registra aquela manhã cinzenta do dia em que encontramos o poeta em Copacabana. Ele estava com frio. Oferecemos o casaco. Ele aceitou. Falamos sobre a infância. Ele disse: “A criança imita o adulto e este, a criança. Ao brincar com a criança, o adulto está brincando consigo mesmo”. Deixamos o poeta ali na calçada. Engraçado... aquilo mexeu com meus trinta anos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A mais malvada das malvadíssimas mulheres...

Quando estávamos no Rio de Janeiro fomos conhecer um sebo indicado pela Mariana Massarani. Chama-se Beta de Aquarius e fica no bairro do Catete, pertinho do Flamengo, onde estávamos hospedados. Lá, parecia que o tempo havia parado. Uma aura mística envolvia o lugar. Talvez fosse a presença de Ísis, a gata siamesa que estava sempre ao lado do simpático proprietário Antônio. Ela parecia personagem saída do filme MIB (Homens de Preto). Olhava para nós como se buscasse os livros da nossa mente. Encantados pela aura do local e seus habitantes, mergulhamos naquela floresta de livros em busca de alguma preciosidade. Encontramos a primeira edição da Bolsa Amarela, entre outros títulos que insistiram em mudar para Brasília. Nestes, um chamou mais atenção que os outros: A PIOR MULHER DO MUNDO (Fernando Hinojosa, Nova Fronteira).
Não, não era nenhum especial do Guinnes e sim uma história espetacular sobre injustiça, maus tratos e esperteza para se livrar das adversidades. O livro conta a história de uma mulher malvada, “a mais malvada das mulheres malvadíssimas do mundo”. Maltratava os filhos, os animais, os cidadãos daquele local. Todos tinham medo dela. Seu prazer era provocar o outro. Incomodar. Ferir. O conto segue até que um dia a população descobre um meio de “derrotá-la” usando da sabedoria do homem mais velho do povoado. O mexicano Fernando Hinojosa é um premiado escritor de literatura infantil no seu país com livros publicados no mundo inteiro. Neste livro, criou um texto que, lido em voz alta para as crianças, provoca interjeições. ARGH!!! UI! NOSSA!!! CARACA!!!
As ilustrações do Rafael Barajas são extensões do texto. Carregam a mesma força do beliscão na bochecha e do limão pingando no olho. Na edição brasileira os desenhos estão em preto e branco mas é fácil imaginar as cores das malvadezas da pior mulher do mundo. Não pense que é um livro politicamente correto. Mas é aí que está o seu encanto. Se seu filho (assim como os Roedores de Livros) se diverte cantando Atirei o Pau no Gato e O Cravo Brigou com a Rosa, vai devorar este livro. Vai odiar a pior mulher do mundo. Vai ler a história até o fim para descobrir como ela foi enganada. E vai crescer e se tornar um cara legal assim como o menino maluquinho. E se você está no Rio de Janeiro, corre lá no catete para conhecer a Ísis e o Antônio. Com certeza você encontrará um livro com o desejo de ser adotado. E o precinho, ó... vale a pena!!! That´s all, folks.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Funcionário da Fantasia Pública...

Atenção, atenção!!!
Entra em cena o CAPITÃO JONAS RIBEIRO – FUNCIONÁRIO DA FANTASIA PÚBLICA!!!

Depois de uma apresentação-declaração-de-amor de Íris Borges numa brincadeira com os títulos de seus livros, Jonas Ribeiro assumiu a PALAVRA no auditório da Escola Parque 308 Sul e encantou cerca de 300 pessoas que lotavam aquele local na última segunda, 13 de agosto, ávidas por dicas sobre como se tornar um grande contador de histórias.

Eis algumas dicas condensadas daquele bate papo:
Antes de tudo, é preciso um trabalho diário com a PALAVRA, em casa, sem a presença do público. Pesquisar as nuances, o perfume, as cores de cada história. Ler sempre. Conversar bastante. Não entregar o “discurso” pronto. Deixar espaços. Estar sempre atento às sutilezas. Reciclar para não ficar ultrapassado. Renovar o repertório.

Passado este momento, Jonas nos presenteou com uma história tibetana conquistando o silêncio de todos. No conto, a personagem materna perdia a visão pouco a pouco. Enquanto isso, era fácil perceber olhares envoltos na emoção da PALAVRA. Jonas Ribeiro era todo fábula. A história dançava na sua voz, nos seus gestos, por todo o auditório. Provocou suspiros. Arrancou aplausos ao fim de 15 minutos. O público estava no bolso.

Depois, com a ajuda do inseparável baú repleto de lenços, Jonas nos apresentou sua bruxa Cremilda provocando risos e a participação de todos durante a história. Tiradas geniais com a do GLOSS e a de que “todo professor adora transformar garrafa PET numa obra de arte” provocaram aplausos espontâneos além de vários “iuhús” na platéia. Jonas Ribeiro encanta. Distribui abraços, beijos, autógrafos. Como num passe de mágica guarda a noite e o tempo no seu baú. Cria uma viagem no tempo. Saímos todos crianças de lá. Mais sapecas, peraltas, felizes.
Na platéia, foto acima, parte dos Roedores de Livros: Eu, Tino, Edna e Luciana. Encontramos ainda muitos contadores de histórias da cidade... e a cada dia descobrimos mais gente se engajando nesta lida!!! Na foto abaixo, Míriam (elogiada publicamente por Jonas acerca da sua performance no último sábado), Aldanei e Teresa. Conversa vai, conversa vem, parece que vamos nos encontrar no SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CONTADORES DE HISTÓRIAS promovido pelo SESC do Rio de Janeiro no final deste mês. Motivo para obedecer a mais um “mandamento” de Jonas Ribeiro para ser um bom contador de histórias: conhecer outros trabalhos, reconhecer talentos, se envolver com os gigantes pois, convivendo com estes, pode-se agigantar também, compartilhando erros e acertos. Sabido este Capitão Jonas!!! Gigante este funcionário da fantasia pública!!! Seguimos aprendendo. Iuhúúúú!!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A casa encantada de Íris e suas histórias fabulosas...

Íris Borges é a literatura infanto-juvenil em Brasília”. Assim escreveu Lourenço Cazarré em “O Livro das Feiras do Livro de Brasília”. Pois foi na casa desta mineira de Coromandel que na noite do último sábado (11/08), Eu e o Tino compartilhamos histórias, sorrisos, projetos, amigos e uma vista maravilhosa onde as estrelas encontravam as luzes de Brasília.
A casa guarda encantos em cada cômodo, objeto, gato, livro. Segundo Íris, foi planejada, construída e decorada para abrigar escritores, contadores de histórias e muita, muita inspiração. Pois foi cercado desta aura literária que o sarau ganhou forma e as histórias foram encontrando seus cômodos: Tino dividiu seus gansos na cozinha, Carleuza sacou a bruxa Miséria embaixo de uma mangueira, Simone emocionou a todos com Todas as Noites do Mundo contada na cama da anfitriã, Iclélia começou com um poema e arrebatou com a fabulosa Pele de Bode, recitada na biblioteca. Na sacada, Aldanei encantou com uma história sobre pai e filho e quase todos nos “molhamos” com a areia que saiu da sua imaginação. Por fim, Míriam sacou mais uma maravilha com o califa Harun al-Rashid no enredo.
Depois, todos nos abrigamos sobre o céu, as estrelas e o calor de uma linda fogueira para uma sessão de piadas. Ainda entre os convidados, Abadia e seu esposo (Sítio Geranium), João, sua esposa e filho, além de Mel (uma menina maravilhosamente sapeca) e Antônio (filho da Alda). Um mestre na arte de contar histórias, Jonas Ribeiro teve seu dia de espectador. Sua presença, sempre inspiradora, foi mais uma estrela a iluminar nosso céu naquela noite.
Alta madrugada, hora de voltar para casa. Deixamos para Íris um mundo de sonhos e desejos. A literatura infantil ganhou uma noite de gala. Estou certa de que os espíritos dos Grimm, Andersen, Perroult e Sherazade alimentaram o fogo daquela fogueira. Bruxas, princesas, duendes e dragões estiveram conosco na noite de sábado. Você não acredita? Que pena. Nós acreditamos. Hatuna Matata!!!

Colhendo fantasias...

No últino sábado, 11/08, levamos nosso Baú Criativo para o projeto na Ceilândia. Dentro, envelopes com diversos objetos (recortes, brinquedos, etc...) que "pescados" aleatoriamente pelas crianças serviram para a criação de uma história. Com o objetivo de exercitar a fantasia, uma após a outra, as crianças sentadas em círculo descobriam o conteúdo do seu envelope e encaixavam o mote na história que fora contada até então.
Daí, surgiu um gigante num jardim que encontrou um monstro que o transformou num caranguejo. Lá pelas tantas apareceu um macaco que comeu o crustáceo, se se casou com o monstro (!!!) e foram felizes para sempre... Durante a criação, alguma dificuldade dos meninos para desenvolver o enredo zás trás, porém, muitos risos com as soluções encontradas.
Enquanto isso, na sala da fantasia, Juliana apresentava o pau de chuva para as crianças. Não sem antes falar sobre o bandeirante Anhanguera e contar a Lenda do Guaraná. Saímos todos um pouco mais indígenas.
O Tino, com seu novo chapéu, voltou a se apresentar para o grupo, que se mostrou mais afinado com canções como Sai Preguiça, Marinheiro Só, Maracangalha, entre outras. Tem coisa nova vindo por aí...
Ao final, muita gente querendo levar livros para casa. Dos quase trinta empréstimos da semana passada, dois esqueceram de trazer e dois faltaram. Foi surpreendente. Lembramos que não existe multa e estes dados servem só como controle interno do projeto. That´s all, folks.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Anjos que explicam mas não se explicam...

No final do majestoso filme “O ano em que meus pais saíram de férias” o menino Mauro, personagem principal da trama diz:
- Exílio é quando o pai da gente atrasa tanto, mas tanto, que nem aparece em casa.
Naquele momento tive a certeza que a frase era da Adriana Falcão. Esperei os créditos e... SHAZAM... lá estava ela como colaboradora do roteiro. É impressionante como alguns autores e ilustradores conseguem desenvolver um estilo próprio. Estas explicações pinçadas da mente criativa da autora me conquistaram desde que descobri o MANIA DE EXPLICAÇÃO (tenho falado tanto deste livro que em breve farei uma resenha). Depois veio o LUNA CLARA & APOLO ONZE. Até que ela resolveu agrupar várias de suas sacadas geniais no PEQUENO DICIONÁRIO DE PALAVRAS AO VENTO. O Tino, por sua vez, cuida com muito carinho da edição de A MÁQUINA com ilustrações de um tal Rinaldo (é a com capa branca, não com a capa do filme), que desde a primeira vista o deixou com uma pulga atrás da orelha que só saiu ontem.

Pois é: Adriana Falcão esteve em Brasília, a convite do Conjunto Nacional, para falar sobre seus livros, sua carreira de escritora e outras mumunhas. Lá descobrimos algumas afinidades. Não gostamos de decidir nada. Quando possível, preferimos delegar essa responsabilidade – ou culpa – para outros. O Tino, a exemplo da Adriana, leu O ESTRANGEIRO também aos 17 anos (presente de um amigo). Livro que desatarraxou uns parafusos da sua cabeça.

Outra coisa bacana deste encontro foi descobrir que tanto talento passa por um doloroso “processo de criação” quando o livro é por encomenda. Segundo ela, normalmente passa por três tentativas iniciais de resolver de uma forma mais simples:
1) Será que tem algo que já escrevi que pode servir?
2) Devolver o dinheiro depositado pela editora...
3) Se matar...

Adriana é capaz de passar a noite procurando a melhor palavra para determinada frase. Às vezes, seus anjos entregam a frase inteira de uma vez. Esses anjos...

O fato é que ela tem graça e talento de sobra. Eu, Tino e Célio, os Roedores de Livros presentes ao encontro, saímos de lá ainda mais fãs. Depois de autografar nossos livros (num bate papo informal em que a pulga do Tino se esfacelou no chão: Rinaldo, o ilustrador daquela belíssima edição de A MÁQUINA é, sim, marido de uma amiga em comum, Germana Accioly... mais do que isso não posso dizer), sessão de fotos e a lembrança do momento em que o meu sapo-príncipe-cearense, num misto de nervosismo e timidez, pediu o microfone e disparou para a escritora uma explicação para o termo ADRIANA FALCÃO: - É quando 400 páginas parecem 60 minutos ou quando a leitura se torna tão gostosa quanto um bolo de chocolate. Esses anjos...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sacolas e livros na Cidade de Deus do DF...

Livros: "onde moram as histórias", segundo Adriana Falcão. Objetos da maior importância para que nosso projeto ajude a formar crianças aptas a viver suas fantasias. Capazes de vencer seus medos. Agentes da sua própria mudança social. No último sábado, 04 de agosto, colocamos em prática mais um desafio a que nos propusemos ao trazer os Roedores de Livros para a Ceilândia: Criar uma Biblioteca Infanto-Juvenil e proporcionar o empréstimo de livros para as crianças. Nosso acervo ainda é tímido, porém, vigoroso. Estamos quase com 400 títulos. O mais importante: as crianças estão a fim de conhecê-los. E neste sábado, levaram os primeiros livros para casa.
A Pró Gente estava repleta de crianças. Dividi as turmas e, enquanto uns ouviam as peraltices de Pedro Malasartes com a Juliana, o Tino e a Luciana; outros faziam origamis com Célio e Vilma, eu batia um papo informal com um terço da garotada. É triste saber que as palavras "tiro", "baculejo", "polícia", "cigarro" entre outras façam parte do vocabulário principal de muitos dos nossos pequenos. Um deles me perguntou se no projeto não passava vídeo pois ele tinha um muito bom em casa e queria trazer para assistir com todos: Cidade de Deus!!! Cadê a infância destes meninos?
Talvez por isso, o fascínio com o contato com o livro esteja tão latente em TODOS. A hora da leitura primeiro vira uma farra com a escolha dos livros. Precisamos descobrir um jeito mais simples, porém ainda acredito que a livre escolha do que se quer ler é muito importante. Escolhido o livro, é a hora da leitura, de compartilhar descobertas e de pedir ajuda quando não conhecem uma palavra, por exemplo.
Não costumo colocar o lanche em nossos posts, mas quero lembrar que o projeto é VOLUNTÁRIO e necessita de APOIO FINANCEIRO para manter principalmente o lanche e o material das oficinas. Alimentamos cerca de 40 pessoas por sábado. Não é fácil!!!
Por falar em apoio, foi graças à iniciativa da nossa querida ALESSANDRA BERNARDES (CASA OLÍMPICA e MARLESKA CONFECÇÕES), que podemos oferecer às crianças nossa tão desejada Sacola de Livros. Assim, eles podem levar os livros da biblioteca para casa com todo o cuidado. Ficou fashion. Usamos como tema a ilustração que o JÔ OLIVEIRA nos presenteou em 2006. Todos adoraram. E o primeiro dia de empréstimo de livros foi um sucesso!!! Querida Alê, muito obrigada por mais esta força. Em breve, quem sabe, venderemos a sacola dos Roedores de Livros para ajudar nos custos do projeto. Saímos da Pró Gente depois do meio dia tomados de uma alegria só. Alegria? Pois é, segundo Adriana Falcão, alegria "é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro". Seguimos em frente com o bloco na rua!!! A la la ÔÔÔÔÔ!!!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Quanto vale uma boa história?...

Para construir este post, vou reproduzir um trechinho do livro autobiográfico A ARTE DE CONSTRUIR CIDADÃOS – As 15 lições da Pedagogia do Amor (Celebris) do pedagogo e “contador de histórias” ROBERTO CARLOS RAMOS. Ele acabara de chegar à Espanha pela primeira vez:
Foi nesse país que conheci uma senhora que era uma fantástica contadora de histórias, que me vendeu um belo potinho, que, segundo ela, havia pertencido a Napoleão Bonaparte. Ela me contou das bravuras de Napoleão e de como havia conseguido adquirir aquele pote. Fiquei tão impressionado com a história do pote, que perguntei se ela poderia me vende-lo. Ela perguntou quanto eu tinha na carteira. Quando lhe falei a cifra que tinha, ela reclamou, mas disse que apesar de ser pouco o dinheiro que eu carregava ela iria aceitar, pois havia se simpatizado comigo. Entreguei-lhe todo o dinheiro, e quando ela abriu o armário para pegar o famoso pote vi que lá dentro havia muitos outros potes iguais ao que ela estava me vendendo. Muito desconfiado, perguntei:
- Espera aí! Por que tantos potes iguais?
- Eu tenho culpa se Napoleão era louco? Eu tenho culpa se aquele homem adorava colecionar potes? Isto tudo aqui pertencia a ele, e, além de tudo, ainda queria dominar o mundo! – disse ela sem nenhum constrangimento.
Percebi que, na verdade, era uma história que ela estava me contando. Revoltado, pedi o meu dinheiro de volta. A resposta dela foi interessante:
- O dinheiro não é possível lhe dar de volta. Estou lhe dando o pote de graça porque você me pagou pela história que lhe contei, e por uma história contada não é possível devolver o dinheiro.Quando ela me disse aquilo me dei por vencido e me conformei com a perda do dinheiro porque ela me ensinou uma grande lição. A força do convencimento das palavras. Além do mais, encontrei naquela senhora, que era uma pessoa fantástica, um estímulo muito grande para me tornar um contador de histórias.

Há duas semanas quando estivemos em Pirenópolis (GO) fomos convidados a conhecer a Cachoeira do Rosário, distante cerca de 40km do centro da cidade. O acesso não tão fácil e a grana desembolsada faria qualquer professor assalariado pensar duas vezes. Ao chegarmos lá havia uma turma de jovens com “seus” carros bacanas, som alto, gritos e tudo mais. Pensei: - Que fria!!! Este lugar é o caos para quem quer sossego e natureza. Mas fomos em frente. Chegamos à cabana e subimos para o mirante repleto de redes (o Tino abriu um sorriso...) e esperamos os jovens seguirem rumo às cachoeiras. De repente, surge um caboclo, nativo, chamado Demócrito, que nos dá as boas vindas e o seguinte conselho:
- Parece que vocês são como eu. Amam a natureza, o silêncio. Então, sigam por aquela outra trilha, façam o caminho oposto. E descubram nossa beleza.
Beliscamos uns torresmos, queijo e goiabada noutra mesa, água do filtro, pegamos os cajados e seguimos até uma das nascentes do Tocantins. Depois, cachoeiras, piscinas naturais, pássaros invisíveis e um almoço caseiro de fartar um T-Rex.

Fugimos para o primeiro andar e fomos descansar os olhos nas redes do local. Perto das 17h, poucos remanescentes apreciavam aquele silêncio. Sentimos um aroma de chá. Descemos e compartilhamos aquela efusão com Demócrito e Jaqueline, sua esposa. Descobrimos que eles eram os proprietários do lugar. Papo vai, papo vem e, enquanto o sol pensava em descansar, o Tino abriu uma roda de histórias contando A DIVISÃO DOS GANSOS (uma de suas preferidas)... Aí deu-se o milagre: Demócrito, criado naquele cerrado, contou causos das noites em que ficou sozinho na mata, falou do Pai do Mato e de outras aventuras. Jurou que assombração existe. Para não fazer feio, Jaque, que conta histórias para as crianças em Pirenópolis, também desfilou seu repertório e nós, lembramos de Roberto Carlos Ramos e sua história sobre o encontro com aquela senhora na Espanha.
Ao final, o sol se pôs, a turma da Cachoeira do Rosário saiu numa Kombi que parecia a da Miss Sunshine, e nós voltamos para casa com a sensação oposta de quando chegamos lá: Pagamos pouco pelas histórias que ouvimos e ainda levamos de graça cachoeiras, redes, piscinas naturais, almoço, uma rodada de chá, o canto dos pássaros invisíveis e a primeira noite de lua cheia do mês de julho. Juro que deu para ouvir os lobisomens depois da meia noite!!!

P.S. Nas fotos, de cima pra baixo: a) Os exploradores Lucia Helena, Eu, Anna Claudia Ramos e Tino; b) Eu e o Tino em estado mineral na exata hora do meu beijo transformador; c) Os exloradores com o casal Demócrito e Jaqueline; d) A guerreira Kombi da Cachoeira do Rosário e o pôr-do-sol.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Espaço Cultural Vila Esperança

A Cidade de Goiás, no coração do Brasil, abriga muito mais que a Casa de Cora, Museus e cachoeiras... é o celeiro de gente que – como os Roedores de Livros – trabalham por uma infância melhor, por um Brasil mais justo. O interessante é que a gente acaba descobrindo isso ao acaso, onde menos se espera. Dia desses, tomando um café no Grão Café Realejo (o melhor lugar na Cidade de Goiás para um bate papo tranqüilo e um atendimento especial - veja a foto acima) ao lado de Anna Claudia Ramos, Lucia Helena e do Tino Freitas, reencontramos a Micky (terceira da esquerda para direita na foto abaixo) que nos atendeu com toda a simpatia do mundo com cafés e histórias. Ainda era cedo. Poucos clientes. Papo vai, papo vem, descobrimos que ela é voluntária do Espaço Cultural Vila da Esperança.
A Vila é um cantinho pluricultural que educa cerca de 200 crianças, gratuitamente, com uma proposta que extrapola os muros da escola tradicional, utilizando ainda recursos de uma brinquedoteca e diversas formas artísticas como o teatro a dança e a música. Na sua sede, em frente ao mosteiro da cidade, funciona ainda a Rádio da Vila, programa produzido pelas crianças, entre outras tantas iniciativas. Lembramos muito da Escola da Ponte, em Portugal. Nossa escola dos sonhos.
Pois é, Micky e outros tantos voluntários saíram do sonho e apresentam à comunidade carente da Cidade de Goiás uma proposta pedagógica inovadora, ousada e encantadora. Como diria Rubem Alves (ando apaixonada por seus escritos): “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender”. Mas a vida na Vila não é nada fácil. O primeiro obstáculo está na família das crianças. Há muita resistência ao modo “diferente” de educar aplicado ali. Para muitos pais, o certo é como nas escolas “normais”. Mas o trabalho segue sem obrigações. O mundo ainda não está preparado para aceitar essa revolução que se aproxima. Recentemente li em algum lugar que se houvesse uma máquina do tempo e alguém do início do século XX aparecesse de repente por aqui, estranharia tudo: celulares, televisão, computadores, roupas... a única coisa que estaria ainda de acordo com o seu mundo secular seria a educação. Pense bem: isso é assustador!!! No interior de Goiás, crianças e voluntários aprendem e ensinam juntos. No final de semana passado estavam de recesso, mas em breve, faremos uma visita. Quem sabe na SACIZADA acontecerá no final de agosto?! Daqui, deixamos beijos para a Micky e toda a equipe da Vila Esperança. O tempo abraçará nossas certezas. Hatuna Matata!!!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Em julho, na Fnac, sorrisos e brinquedos.

No mês de julho, fomos convidados a desenvolver oficinas de brinquedos populares na Fnac em Brasília e, num intensivão de uma semana, eu e Vilma Sampaio trabalhamos para fazer das férias da garotada algo mais diferente e divertido. Talvez o grande sucesso tenha sido a oficina de Aviões de Papel.
Você pode pensar: - Ah, aviões de papel eu sei fazer... que coisa mais sem graça!!!
Mas existem vários modelos diferentes daquele tradicional que aprendemos na infância junto com os chapéu e o barquinho de papel. Foi surpreendentemente positivo ver pais e filhos juntos brincando de jogar os aviões no ar. Ensinamos também a fazer um helicóptero e este foi o grande trunfo da oficina. A Fnac ficou mais congestionada que o espaço aério de São Paulo. Sem acidentes, é claro. Só alegria!!!

Nossa oficina de Galinha de copo plástico foi mais uma vez um encanto. Todos descobrindo o segredo do canto da galinha e fazendo a festa com seu cocoricó.
Além dos aviões, fizemos outro dia com dobraduras produzindo Origamis Gigantes: Um Sapo saltitante e um Tsuru laranja fizeram a alegria de todos. No final, em clima de Pan, brincamos de corrida de sapo.
Para encerrar, o genial Traca-Traca (ou escada de jacó) foi feito para que os pais participassem junto com as crianças da sua confecção e da brincadeira. Depois de pronto, formamos um círculo e, com o brinquedo fizemos mágica e contamos história. As outras ofincias de julho foram as cinco marias e o rói-rói. Muito trabalho, muitos sorrisos, brincadeiras e novos amigos para os Roedores de Livros. Seguimos alimentando a fantasia dos pequenos. Hatuna matata.